“Qualquer lugar aonde os ciganos chegam, sentem que ali é seu mundo, sua terra, sua pátria, até que se vão para outro lugar. Temos sempre presente o horizonte. O que nos impulsiona a andar é algo que brota do íntimo, do interior. É incontrolável.” (Juan González) Extraído do livro de Cristina Costa Pereira, OS CIGANOS AINDA ESTÃO NA ESTRADA-Editora Rocco/2009.
O nomadismo existe desde os primórdios da civilização, quando os homens caminhavam pela Terra em busca de locais onde havia melhores condições de sobrevivência. Este modo de vida perdurou por muitos milênios e o sedentarismo (fixação em um local definitivo) surgiu quando o homem tornou-se agricultor, apossando-se de terras e aprendendo a domesticar os animais.
A sedentarização trouxe com ela a linguagem escrita e a numeração, a manufatura de utensílios, ferramentas e a tecelagem. Entretanto, trouxe também o apego às coisas, a cobiça, as lutas pela posse da terra e dos bens, a guerra em defesa da propriedade. Instituiu a hegemonia do poder e do dinheiro.
Nas sociedades sedentárias irrompeu, desde o início, o receio, o medo do estrangeiro, a desconfiança em relação aos desconhecidos, a reclusão e o fechamento dentro de fortes muralhas de proteção. Criou-se o casamento para que se assegurasse a herança das propriedades dentro da parentagem consangüínea.
O nomadismo trouxe à humanidade a lição do desapego, da impermanência das coisas, da união dos indivíduos em prol da sobrevivência da tribo, da liberdade dos espaços abertos, do convívio respeitoso com a natureza e a percepção e observância de seus ciclos.Deu aos homens o gosto e o sentido de liberdade ao se locomover livremente pelo mundo, desconhecendo fronteiras e orientando suas rotas e destinos pela luz das estrelas e pela direção dos ventos.
Povo nômade, os ciganos, em especial, cruzaram a terra, disseminando sua cultura e agregando-lhe, em seu percurso, um pouco de todas as outras culturas.
As vivências das estradas, de novos caminhos a percorrer, de paisagens insólitas fizeram desabrochar fortemente, no povo cigano, a criatividade e a inteligência diante do imprevisto e das dificuldades a serem vencidas. As perseguições e o isolamento nos fizeram mais unidos e fortes diante dos obstáculos e dos perigos.
O silêncio dos campos e a escuridão das noites estreladas nos inspiraram a música, a poesia, os paraminches(contos) e, os dons divinatórios que nos aproximaram mais ainda de Deus e dos nossos antepassados, reforçando nossa fé.
Atualmente, o modo de vida nômade tornou-se apenas uma opção para poucos, devido aos benefícios advindos do sedentarismo e, às dificuldades que os ciganos encontram em se locomover livremente e acampar em lugares adequados nas cidades modernas. Muitas vezes também , por não conseguirem obter documentos de identidade por não possuírem endereço fixo.
No entanto, o nomadismo,a liberdade de ir e vir, está dentro de nós, sedentários ou não... Faz parte de nossa essência. É aquela nostalgia de outras paisagens, que nos assoma a alma em certos momentos, é o desejo inquieto de novos horizontes, de espaços amplos onde possamos exercer a nossa liberdade de idéias e atitudes. É o anseio que faz nosso coração bater mais forte, nosso olhar se estender mais longe, nossos pés criarem asas, nossa emoção transformar-se em pura música.
Nomadismo, descoberta e transmissão,portanto,se constituem na trama entrelaçada da condição humana ao longo dos tempos. Só descobre quem tem a coragem de mudar, de transpor fronteiras, de arriscar-se. Descobrir é, portanto mudar; é ir em direção ao novo com humildade, sem preconceito, sem medo, e poder transmitir ao outro o que foi aprendido, para que sobrevenham mudanças.
Que os ciganos, mesmo tendo se tornado sedentários cultivem as tradições de nosso povo; que mesmo tendo que levar uma vida “gadjê” pelas imposições da sociedade onde estamos inseridos, usufruam dos bens de consumo sem apegar-se a eles, adaptem-se aos hábitos modernos, mas mantenham sempre acesa em sua alma, a chama da sua ciganidade, porque...
“Ser cigano é contemplar a vastidão do céu e sentir-se parte dele; olhar o horizonte da terra e sentir-se caminhando com ela em direção ao infinito.” (Antônio Guerreiro de Faria).
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(EXTRAÍDO DE MEU ARTIGO,NA REVISTA ELETRÔNICA "JANELLÁ".)
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(EXTRAÍDO DE MEU ARTIGO,NA REVISTA ELETRÔNICA "JANELLÁ".)
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